quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Meu fantasioso professor

Neste dia, uma homenagem aos mestres, com carinho. Sou professora.


Quem não esteve em crise por se apaixonar pelo professor?

Vejo isso como uma forma gostosa de lembrar minha idade angelical de treze anos.

Coloco a cabeça no travesseiro e digo: 'Fui amada sem nunca ter sido'.

Transporto-me para o colégio onde estudava e me vejo com ar de moleca apaixonada, tímida, porém, coquete dissimulada.

Sentindo-me pronta para ser amada, entro saltitante na sala de aula. Sempre feliz quando havia aulas com o professor de Português. Cabelos claros, porte comum, porém, seus olhos faziam-me lembrar o céu, o mar.

Aos treze anos, dona da verdade, acreditava ser o homem da minha vida. Minha fragilidade não impediu que meu entusiasmo tomasse conta de mim. Sentia tremor até em meu avesso, difícil de esconder.

Minha forte base em leitura fazia com que ele sempre me escolhesse para ler textos, e eu me regozijava, pois preenchia minha vida, minhas fantasias, dando mais colorido a meus dias. Eu navegava em minhas emoções cada vez que ele dizia para eu me levantar e ler. Me elogiava e eu 'bebia' seus elogios.

Minhas fantasias eram de menina-moça, quase criança, e eu acreditava que ele era o meu príncipe encantado.

Lembro-me dele com doçura, pois aquela criatura me encantava até quando simples rabiscos fazia em meu caderno. Na lousa, era um ponto fixo onde eu olhava e me perdia em meus devaneios. Meu coração batia mais forte, e eu docemente prostrava-me no frio de cada pura emoção. Isso nada me impedia de ser ótima aluna, a que ele nunca deixava de fazer alusão, acendendo ainda mais meu gosto de estudar.

Sua voz, para mim, uma canção... Não imaginava que essa mesma voz faria meu mundo cair.

Sempre, antes de entrar em classe, quando havia aula de Português, passava pelo banheiro e ficava grande parte do tempo penteando meus cabelos e retocando o batom. Eram cinco ou seis camadas de batom, e, de leve, um toque de perfume que levava escondido em meu estojo, num minúsculo frasco de remédio. Essa era a minha trajetória toda vez que havia aula com meu querido professor.

Tal era minha animação, disciplina romântica e pueril, que certa vez perdi noção do tempo. A sirene tocou avisando da entrada na sala de aula, e, como na época era disciplina rígida, tinha que ser obedecida, ou... castigo!

Atrasada, parei à porta, e, com voz forçada, teatral, de menina apaixonada, disse: "Licença, professor?". Ele respondeu: "Entre, mas fique de pé, aqui na frente! Por favor, chamem o diretor!". Estupefata, senti minhas pernas trêmulas, eu pigarreando, olhos marejados, vermelha, assustada, sendo alvo dos colegas. Não acreditava que aqueles olhos tão amados me torturavam com intolerância e descaso.

O diretor entrou, olhou-me, e, atendendendo ao pedido do professor, fez-me uma 'argüição' (chamada oral), valendo nota para ser dividida. Mesmo sendo boa aluna em Português, não fui vitoriosa, o que fez o diretor passar-me uma descompostura. Desconcertada, segurando as lágrimas, sentei-me e custei a me recompor.

Nunca mais passei pelo banheiro para dar um toque em minha imagem.

Meu professor passou a ser apenas 'mestre', a pessoa que me ensinava... nada mais.

Poesia de Mim


Poesia de mim
Lídia Valéria Peres

A poesia que faço,
traço a traço, vem de mim...
Das lembranças que busco
no passado, como num abraço,
fazendo minhas recordações
não se perderem no tempo
e chegarem ao fim...

Às vezes, escrevo coisas
cravadas na lembrança...
que existiram, ou não.
No presente tornam-se fortes,
mas creio que um dia existirão.

Busco no viver semelhança,
e escrevo, para feliz na lida
reviver meus tempos de criança
na poesia, sem alma sofrida.
Ser poeta é minha esperança.

Na poesia, minh'alma de criança,
como diante de um espelho,
vejo o meu rosto exposto
às avessas no fundo do tempo.
Hoje, no presente oposto.

No final, o que restará?
Rosto de menina ligado à poesia?
Coração amargurado sem saber rimar?
Creio que me restará a alegria
de ver no espelho minha imagem refletida
de mulher vivida, feliz na fantasia,
escrevendo versos de inspiração sentida.


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